O litoral brasileiro, com sua imensidão costeira e diversidade de paisagens, reafirma sua força como protagonista do turismo nacional — e nos bastidores dessa vitalidade há debates complexos sobre preservação, infraestrutura e mudança de perfil entre os visitantes.
Uma das tendências mais claras é o deslocamento do turista tradicional em direção a praias alternativas, aquelas menos estruturadas, muitas vezes acessíveis por trilhas ou pequenas embarcações. Esses destinos, dominados por uma natureza quase intocada e por comunidades locais, atraem um público mais interessado na autenticidade do contato com o mar do que nas amenidades típicas dos balneários convencionais. Esse movimento sublinha uma nova valorização da cultura regional, do turismo de base comunitária e das práticas sustentáveis nas faixas de areia.
O turismo litorâneo brasileiro, por sua vez, segue crescendo em relevância. O país abriga destinos icônicos que ganham destaque internacional — duas de suas praias estão entre as mais belas do mundo, segundo rankings globais recentes, consolidando o Brasil como referência em belezas naturais marítimas.
Apesar disso, o crescimento turístico vem acompanhado de desafios ambientais significativos. Nas últimas décadas, o avanço urbano sobre as dunas e ambientes costeiros levou a uma redução importante das faixas de praia. Isso não apenas compromete a biodiversidade local, mas também restringe o espaço para o lazer e para a conservação ambiental.
Outro ponto crítico é a baixa umidade das dunas e a erosão provocada pelo desenvolvimento desordenado. Casos emblemáticos mostram que a expansão imobiliária sobre o litoral já consumiu percentuais relevantes das praias e dunas brasileiras, criando riscos ecológicos e sociais. A ocupação indiscriminada vulnerabiliza ecossistemas frágeis e afeta diretamente as comunidades que vivem à beira-mar.
No encontro entre preservação e uso, o turismo de sol e praia continua sendo a principal motivação para viajantes no país. Dados apontam que grande parte dos turistas busca não apenas o descanso, mas experiências que envolvam contato com a natureza e um estilo de viagem mais consciente. Essa movimentação tem estimulado políticas públicas e investimentos privados voltados para a infraestrutura costeira aliada à sustentabilidade.
Estados menos tradicionais no turismo litorâneo também despontam. No Tocantins, por exemplo, as praias fluviais registraram índices recordes de satisfação entre os visitantes — mais de 90% afirmaram que pretendem retornar em outras oportunidades, o que ressalta o potencial de crescimento nas regiões ribeirinhas.
Já no Nordeste, destinos como Jericoacoara e a Baía do Sancho figura entre os preferidos dos viajantes. Esses locais combinam belezas naturais exuberantes, ecossistemas bem preservados e infraestrutura turística crescente, consolidando-se como cartões-postais da costa brasileira.
Além disso, as redes sociais continuam sendo uma vitrine poderosa para as praias do país. Muitas das mais conhecidas ganharam destaque no Instagram, alimentando o apelo visual do turismo de praia e reforçando a importância de destinos instagramáveis — especialmente entre os mais jovens e influenciadores digitais.
Mas se o turismo cresce, a pressão sobre o meio ambiente também aumenta. Especialistas e gestores afirmam que é urgente traçar estratégias que unam crescimento econômico e conservação ambiental. Essas políticas precisam contemplar desde a limpeza das praias e saneamento, até a limitação da ocupação em zonas vulneráveis, passando pela educação ambiental e o fortalecimento de comunidades costeiras.
No mapa do futuro, o litoral brasileiro pode ser mais do que um atrativo de veraneio. Pode se tornar um laboratório de convivência sustentável entre turismo, natureza e cultura. Se bem administrado, esse equilíbrio será uma das grandes conquistas do Brasil no século XXI — para que o paraíso à beira-mar continue sendo um patrimônio vivo.